quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Discursos em Plenário

Por que e para quem um parlamentar, depois de eleito, discursa? Para a televisão (TV Câmara e TV Senado), já que seus pares muitas vezes não estão prestando atenção? Para os que o elegeram, tendo o discurso um papel de mecanismo de accountability?
Desde a graduação me preocupo em tentar entender qual a relevância do ato de discursar sobre temas variados no Plenário da Câmara e do Senado. São diversos os aspectos a se considerar. Seja a escolha da abrangência e natureza do tema -universalistas ou de caráter local, momentosos, históricos, pessoais, generalizantes- ou a finalidade e público-alvo do discurso.
No artigo abaixo, identifico quais as visões de democracia – aquela que enfatiza o processo ou aquela que se conecta com a participação, em outras palavras, a democracia Processual ou Participativa – estão presentes nos discursos dos deputados do PT e do PSDB -dois dos partidos que mais se destacaram após a redemocratização- na Câmara dos Deputados do Brasil nos anos de 1998, 1999, 2002 e 2003.
http://www.seer.ufrgs.br/index.php/debates/article/view/5997
Não coincidentemente, minha monografia de conclusão de curso e dissertação de mestrado tiveram como material de pesquisa os discursos dos parlamentares. Apesar de críticas e visões contrárias, sempre confirmei que a ida ao plenário da Câmara para discursar sobre algum tema é parte essencial do processo político, de deliberação, de debate. Enfim, um requisito da democracia.
Pode-se alegar que muitas vezes discursos são escritos por assessores. Respondo sempre que, ao aceitar debater o tema, o parlamentar está homologando sua opinião sobre o assunto ou ao menos na necesidade de expor o mesmo. Parlamentares não são simples marionetes nas mãos de assessores. O que leva o parlamentar a discursar e os temas escolhidos dependem das estratégias de carreira do mesmo.
Em resumo, os discursos não podem ser relegados a segundo plano como material de pesquisa. Deveria haver mais pesquisas sobre este rico instrumento de análise.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

I Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência Política

O Fórum em questão ocorreu entre os dias 21 e 23 de outubro de 2009 no campus da UFMG.
Importantíssimo salientar que esta foi uma iniciativa de estudantes de diversos cursos de Pós espalhados entre diferentes estados brasileiros e, portanto, organizado quase que exclusivamente pelos mesmos. O quorum foi bem alto, lógico que não podendo ser comparado aos encontros da ABCP em que participam muitos professores bem como alunos da graduação, muito menos com a ANPOCS, que abrange toda a área das Ciências Sociais.
O Fórum teve como tema "A Ciência Política e seus desafios metodológicos" , aliás bem oportuno para mim e acredito que para todos envolvidos com o desenvolvimento de suas dissertações/teses e mesmo para os professores preocupados com o aprimoramento da nossa disciplina.
Participei das discussões de 3 dos 6 GTs do Fórum. Minha intenção foi justamente não privilegiar minha área de atuação (Partidos, Sistemas Eleitorais e Instituições) e ter uma visão global do que vem sendo discutido na CP contemporânea do Brasil.
A mesa redonda da abertura cujo tema foi idêntico ao do proposto pelo Fórum constituiu-se no ponto alto do encontro. Estiveram presentes os professores Gláucio Soares, Jairo Nicolau, Fábio Wanderlei Reis e Lúcio Rennó - nomes consagrados da CP no Brasil. Os temas que permearam as apresentações, alguns mais outros menos explorados por todos foram: a tendência ao americanismo na institucionalização da CP como disciplina no Brasil; o debate "qualitativismo versus quantitativismo" faz sentido?
Sem entrar no mérito das discussões, a simples predisposição em se debater tais questões vislumbra uma perspectiva de avanço da área.
Outra questão metodológica debatida nos GTs que foi ao encontro de minhas inquietações concerne à dificuldade de se encontrar metodologia adequada para conceituar certas categorias, em especial ''esquerda'' e ''direita''.
Mais alguns dos inúmeros pontos tratados que me interessaram de maneira especial: voto facultativo x voto compulsório e suas implicações para a alienação eleitoral; passividade ou não do Legislativo em relação à burocracia estatatal (leia-se agências reguladoras). O modelo de Argelina Figueiredo e Fernando Limongi sobre disciplina partidária no Brasil está longe de encontrar consenso e como sempre ocorre em todos os debates, conferências e congressos, há tanto favoráveis quanto contrários.
Enfim, foi uma excelente oportunidade de estar em contato com outros estudantes e professores, para a troca de experiências e de visões.
Fiquei frustrada pela ausência do prof. Adam Przeworski, não o motivo principal da minha presença, mas certamente um atrativo a mais, já que uma presença internacional.
Concluindo, minha vinda a este Fórum foi extremamente enriquecedora do ponto de vista não apenas profissional mas pessoal, pois pude observar que muito mais gente compartilha dos mesmos desafios que tangem o estudo da ciência política no Brasil.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Dilema

O nome do blog é auto-explicativo e, como já comentei, traduz minha vontade de divulgar, mesmo que apenas para amigos, o que é ser um cientista político.
Por isso, faço referências a momentos do meu cotidiano tentando agregar alguma teoria política.
Estou numa fase que guarda alguma analogia com o "dilema eleitoral socialista".

Adam Przeworski (como pronuncia isso mesmo?) relata como alguns socialistas pensaram que poderiam entrar no jogo democrático estabelecido pela sociedade burguesa e através dele conquistar o poder. A maioria, eles já tinham (operários). Assim, apenas uma organização destes seria suficiente para obter a vitória nas urnas. No entanto, com a constante diminuição do número de membros desta classe, os quais se tornavam mais identificados com a classe média, surge o dilema. Ou se manteria o ideal de um partido de classe, fadado a sucessivas derrotas eleitorais, ou se diluiria o caráter de classe do partido associando-se a outros, o que potencialmente resultaria em uma vitória nas urnas. Denominando-se social-democrata, o partido não conseguiu uma vitória eleitoral. Por motivos que não importam aqui, os social-democratas não conseguem por via eleitoral o êxito na implementação dos princípios socialistas na sociedade.
O ponto aqui é o dilema em si. Óbvio que vêm à cabeça o emblemático exemplo das eleições do Lula pré e pós Duda Mendonça. Contudo, pretendo discorrer mais especificamente sobre o dilema de ser um cientista político. De um lado, está o trabalho óbvio: estudar, pesquisar. De outro, participar diretamente do processo político, seja em um cargo eletivo, seja como assessor ou mesmo marqueteiro.

Citando um professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology):
One common misconception is that graduate work in political science is the first step toward influencing public policy in the United States or in another country. In general, people who want to change the world end up unhappy in doctoral programs and in academia more broadly. Political science, as currently conceived and taught in the United States, is mainly about understanding the world rather than changing it. Those who are content and successful in academia are generally motivated by a desire to solve particular conceptual and analytical puzzles, not by a desire to influence how the government operates. In this sense, a doctoral degree in political science is quite different from, say, a Masters degree or even a PhD in public policy. Those who are interested in the latter (i.e., public policy) are generally disenchanted with the former (i.e., political science).

Em outras palavras, quem faz ciência política não teria muito poder de mudar diretamente o status quo institucional. Parece um pouco frustrante para os mais idealistas, os mais influenciados pelo "dilema". Apenas entender o que acontece não vai ajudar muito a mudar a sociedade, então, será que devo me inserir no sistema? Ou ainda, me aproveitar do sistema para viver "da política" e não "para a política" como bem diferencia Max Weber em "A Política como Vocação".
A carreira acadêmica exige sacrifícios, dedicação, e muitas vezes pouco retorno (não apenas financeiro). Há que se pesar custos e benefícios (que muitas vezes são mais subjetivos do que objetivos).

sábado, 16 de maio de 2009

Participação, Inclusividade e Plebiscito na California



Apesar de alguns pontos controvertidos na política norte-americana, não se pode negar que a democracia funciona no país. Não é um sistema perfeito, não é a Poliarquia de Robert Dahl, nem vou dizer que caminha para isso, porque tenho minhas dúvidas.
Dahl cita dois eixos, pelo qual os sistemas políticos vão na direção de uma forma ideal de democracia: a contestação pública e a inclusividade.
O primeiro, em certo sentido, foi abrangido por mim na postagem anterior. Hoje quero ressaltar o segundo aspecto dahlsiano.

O direito de votar em eleições livres e idôneas é o aspecto que mais interfere no grau de contestação pública e de inclusividade de seus cidadãos, pois quando um regime garante esse direito a alguns de seus cidadãos, ele caminha para um estágio de maior contestação pública. Quanto maior a proporção de cidadãos que desfruta desse direito, mas inclusivo se torna o regime (DAHl, R. Poliarquia. p. 28).

E quantro mais abrangentes forem os assuntos postos em votação, mais inclusivo o sistema. Note que não me referi apenas a eleição dos representantes, mas de issues. A discussão sobre a inviabilidade das sociedades atuais imitarem a Ágora de Atenas, não vem ao caso. No entanto, referendos e plebiscitos são mecanismos de democracia e accountability.

Semana passada estive na Califórnia, em Los Angeles para conhecer a UCLA (University of California - Los Angeles). Fiz uma visita guiada, e gostei muito do que vi. O campus é muito grande, tem uma infraestrutura super moderna. É dividido em dois lados, e parece que há uma "rivalidade"entre a ala norte e a ala sul: hard sciences e social sciences. (Essas fotos do campus não traduzem muito o que é a Universidade)

Reparei em uma brochura na casa de um amigo com entre outras palavras, os dizeres Elections e logo me interessei. Perguntei sobre o que se tratava aquele papel e ele me explicou que era referente ao próximo plebiscito que aconteceria no Estado. Nesta brochura, com muitas páginas, se apresentavam as propostas e os dois lados de cada questão. Parlamentares favoráveis e contrários colocaram seus pontos de vista neste papel entregue a toda a população com o intuito de informá-la (um parênteses: uma das oito condições da Poliarquia de Dahl é o livre acesso a informações). Meu amigo ainda não sabia em que lado votar, mas estava certo de que iria ler todo o folheto para se decidir.

Anteriormente, o povo foi chamado para opinar sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo, e optaram pela proibição.

O pleito a que a brochura se referia, diga-se de passagem, o mais caro da história estadual (com um custo total de cerca de US$ 300 milhões), além de vários assuntos de natureza local, incluíam oito medidas, quatro delas colocadas por Schwarzenegger.
O governador aparentemente fracassou na proposta central de seu programa de reformas, a que lhe teria dado mais poderes para conduzir o orçamento geral do estado e limitar o crescimento das despesas públicas. A medida que procurava dificultar aos professores de escolas públicas a consecução de uma vaga de trabalho fixa também não teve êxito.Não prosperou a iniciativa que procurava fazer com que uma equipe de três juízes aposentados, em lugar dos legisladores de hoje, assumissem o desenho do mapa eleitoral.

Sem analisar o mérito das propostas, o que quero frisar é que neste ponto dou valor aos americanos, pelo seu engajamento político e cultura cívica. Obviamente que não são todos que estão preocupados com questões que não abranjam "seus próprios umbigos". Além do mais, esse meu amigo pertencia a um grupo mais elitizado, já que é pós-graduado em "Finance".

Contudo, as condições para a Poliarquia de Dahl estavam presentes. Acesso a informação, participação, eleições livres e idôneas...

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Democracia na América/Democracia na Moldávia

Tudo que observei sobre a cidade de Cambridge, MA valeu para a semana passada. Essa semana conheci uma outra parte da cidade. Geograficamente, é o mesmo local, entretanto, bastaram os termômetros marcarem a elevação, nada sutil, da temperatura para cidade ganhar uma nova cara. De 7ºC para 17ºC!!!! Agora sim a primavera deve começar.
Brotaram pessoas nas ruas. Onde será que elas estavam antes? Certamente escondidas em algum café/livraria ou Starbucks. Agora todas andam pelas ruas, num clima descontraído. Impressionante! O ar sisudo das pessoas deu lugar a uma festividade que não achei que fosse encontrar por aqui.

Os artistas que cantavam no metrô, subiram!! A cidade está mais alegre, mais musical...As tribos apareceram, a do hiphop, uns punks, e os intelectuais, obviamente, continuam. Os restaurantes e bares que antes eram indoor, agora, meio timidamente, já começam a colocar mesinhas do lado de fora. A sorveteria J.P. Licks está completamente outdoor.

Cada dia descubro algo novo também. Na livraria Harvard Book Store, há palestras gratuitas sobre diversos temas, quase todos os dias. Infelizmente, meu schedule não casou com nenhuma de meu interesse. Os museus também são grátis aos sábados, mas a maioria está trocando a coleção, por enquanto.

O mais interessante, contudo, é o engajamento político que a cidade demonstrou. Pessoas do GreenPeace, Anistia Internacional (e outras ONGs) panfletando, e o que me chamou muito a atenção, uma manifestação, discreta porém enfática, reivindicando democracia na Moldávia.

Conheci umas meninas de lá e elas me explicaram o porquê disso. Vou tentar resumir.

No dia 5 de Abril, 2,5 milhões de eleitores foram chamados a eleger os 101 membros do Parlamento de um dos menores países da Europa, a Moldávia, que tem a a Romênia e a Ucrânia como países limítrofes. O resultado da contagem original, na qual o governista Partido Comunista da Moldávia venceu com cerca de 50% dos votos, foi contestado por grande parte da população que não apoia o comunismo. Segundo uma das moças com quem conversei, as eleições foram marcadas por fraudes, um exemplo disto seria o seu nome ter sido elencado como uma das pessoas votantes, já que ela reside nos EUA há um longo período.

Vladimir Voronin, presidente do país, ordenou a recontagem depois de violentos protestos terem deixado mais de 90 pessoas feridas. Contudo, foi revelado que não houve nenhuma irregularidade no pleito. Chegou-se aos mesmos números da primeira contagem, que assegurou aos comunistas 60 dos 101 assentos no Parlamento.

Mesmo que estes números sejam verdadeiros, representam uma pequena margem para se governar um país sobre os preceitos de um sistema de governo que parece, segundo o que as manifestações mostraram, não possuir muita legitimidade entre uma grande parte da população.

Fechando os parênteses.

Estou começando a gostar mais de Cambridge, mais especificamente Harvard Square. Todo esse ativismo político me faz lembrar de uma importante obra que explica o espírito cívico dos norte-americanos, com base na origem da constituição dos Estados Unidos como país. O pensador francês Alexis de Tocqueville, na obra Democracia na América, mostrou a estreita relação entre democracia e existência de formas associativas livres e autogovernadas. Deste estudo, começou a ser largamente utilizado o termo "associativismo" em diversos outros trabalhos sobre democracia.
O associativismo, em larga medida, é entendido como o processo de reunião, de forma regular, mas não necessariamente contínua, para tratar de demandas comuns. O alvo é a busca de um consenso sobre divergência.

A democracia ideal pressupõe a participação pública e o espírito cívico dos cidadãos (e o associativismo faz parte deste espírito).
Por isso, por mais que se tente deslegitimar a dmeocracia americana por conta da polêmica eleição de George Bush e do "complicadíssimo" sistema de votação, em que se pese a perspectiva associativista, estamos em um país altamente democrático.
Isso é minha opinião, se alguém discorda, sinta-se à vontade para mostrar outro ponto de vista, afinal, estou nos EUA e não na Moldávia.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Cambridge, Massachusetts






Quero apresentar a cidade sob a minha perspectiva. Pelo pouco que pude observar até agora, Cambridge é uma cidade interessante, pois é ao mesmo tempo cosmopolita (inúmeros estudantes estrangeiros, pessoas com alto nivel de escolaridade e de várias partes do mundo e também alguns mendigos), com um ar provinciano. Muitas casas em vez de edifícios, ruas tranquilas, pouco trânsito, metrô não muito cheio, pessoas com um ar mais despreocupado, especialmente se comparadas aos novaiorquinos.

Não conheço a cidade homômina da Inglaterra, aliás AINDA não conheço este país (dois incidentes seguidos me fizeram perder a oportunidade), porém, penso que a arquitetura local remeta à da cidade inglesa, já que estamos na Nova Inglaterra.

As faculdades de Harvard apresentam alguns contrastes. Uma parte mais tradicional e outra bem moderna, mesmo que mantendo o padrão ingles, e nisto se inclui o prédio -na verdade dois, um em cada lado da rua- do Department of Government (...is one of the leading political science communities in the United States. Our faculty represent a broad spectrum of backgrounds, methodologies and approaches. We have strength in teaching and research not only in the four fields of political science—American politics, political theory, comparative politics, and international relations—but also in the areas of formal theory, methodology, and political economy.)

No geral, as cidades marcadas pela presença de centros universitários são mais acolhedoras, além de bastante diversificadas no que diz respeito às tribos que interagem umas com as outras. Aqui, em contraste, não se vê essa mutiplicidade de estilos. Evidente que estou falando do ponto de vista estético,isto é, da maneira como se vestem, porque não tenho mais dados sobre quais são os grupos que convivem na universidade.
Não sou afeita a generalizações, inclusive sou relativista ao extremo; contudo, o povo daqui parece ser bastante esnobe. Mas, eles podem! Estudam em Harvard, a melhor (e mais cara) universidade do mundo!

É inegável que a cidade tem um atmosfera intelectual, eu diria até contagiante. Nos cafés, sempre há muitas pessoas estudando, não só com seus laptops, mas com -pasmem!- livros. Falando nisso, as livrarias daqui não perdem em nada para as do Brasil. A Harvard Book Store tem a vantagem de ter uma grande sessão de sebo em seu subsolo, tirando isso, não tem tantas opções de livro quanto pensei que teria. A Harvard Coop, que é da editora de Harvard, é bem maior (3 andares), mas não é tão grande quanto a Cultura de São Paulo /Av.Paulista. A sessão de Ciência Política deixou a desejar, se comparar com a Saraiva Mega Store do Barra Shopping, por exemplo. Tinham os clássicos, obviamente, e algumas outras obras, até que não só restrita aos autores norte-americanos. Inclusive, dois autores brasileiros na sessão: Mangabeira Unger, professor daqui de Harvard (alguns não o consideram tão expoente da CP brasileira) e um livo organizado por, entre outros, Leonardo Avritzer da UFMG. Na sessão de ficção, advinhem: Paulo Coelho. Vou me abster de comentar este fato.

Um mecanismo muito interessante no site dessa livraria é que todo os cursos da universidade estão relacionados e, selecionando sua área e código da matéria, vem a lista de livros pedidos para a disciplina e os preços (até de usados, se tiver) e você pode comprar tudo de uma vez, online.

A cidade tem todas as facilidades para quem quer realmente estudar. Com várias bibliotecas e cafés/livrarias. E olha que nem fui ainda aos museus e galerias de arte, e são vários. Tenho muita coisa para explorar!!!!

terça-feira, 26 de agosto de 2008

A "arte" da pesquisa

Para mim, a parte mais gratificante de ser um cientista político é fazer pesquisa.
Analisei, para a minha dissertação, a visão dos parlamentares em seus discursos em plenário sobre reforma política. Li 242 discursos destes deputados no momento do Grande Expediente da Câmara e tentei desvendar associações com certas variáveis.
Um parlamentar se destacou, com um número de discursos muito além da distribuição encontrada. Resolvi ir para Brasília conversar com este deputado, para entender o porquê dele ter sido um "outlier".
Abaixo, a íntegra da entrevista que fiz com o deputado Mauro Benevides do PMDB do Ceará sobre reforma política.

Brasília, 06 de novembro de 2007.

Nathalia: Vossa Excelência foi o deputado que mais discursou sobre reforma política no período de 2000 a 2006. Eu gostaria de saber o porquê da sua preocupação com este tema, se é uma questão central no seu mandato e na sua carreira política...
Mauro Benevides: Eu, na composição da Câmara dos Deputados talvez seja aquele que tem o maior número de mandatos. Evidentemente que somando os mandatos que tenho ao de vereador da Câmara Municipal de Fortaleza, que foi o início da minha carreira político-partidária. Fui deputado estadual, eu tive quatro mandatos de deputados estadual. E como deputado estadual eu fui líder da maioria e presidente da Assembléia Legislativa. Depois sai de deputado estadual diretamente para o Senado, num lance surpreendente para a política do meu Estado, porque eu não tinha vivência ao nível nacional. E fui então candidato ao Senado, primeira vez em 1975. Tomei posse no dia 1º de fevereiro e exerci cargo de vice-líder e secretário da MESA. Depois fui candidato a governador e perdi a eleição para governador, e, durante quatro anos, fiquei sem mandato. Nesse espaço de tempo, eu exerci a presidência do banco do Nordeste, que é o instrumento de colaboração mais expressiva do desenvolvimento daquela faixa do território brasileiro. Me afastei do banco para ser novamente candidato ao Senado. Fiz uma campanha bem mais fácil porque o nome já estava projetado e me elegi pela segunda vez senador. Então, um mandato de senador são duas legislaturas, aí compute-se quatro legislaturas. E na Câmara Federal, estou no terceiro mandato na Câmara Federal.
Na minha vida pública enfrentei problemas delicados, como na presidência do Senado, o impeachment do presidente Collor. Naquela ocasião era o presidente do Senado. Exerci, em seguida, a liderança da maioria e tive uma atuação relativamente destacada ate por uma condição hierárquica na condução dos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte. Nosso presidente era Ulysses Guimarães e o 1º vice-presidente era alguém que você não conhece, conhece? O primeiro vice-presidente da Constituinte, não?
O senhor...
Mauro Benevides: Você não conhece não, né...O presidente era o Ulysses, você sabe... E o primeiro vice-presidente a substituir o Ulysses, quem era, você estudante de Ciência Política? (Risos) O primeiro vice-presidente era o seu entrevistado de hoje. Então se você consultar a Constituição, você vai ver que o segundo nome da Constituição é Mauro Benevides.(mostrando a Constituição e seu nome) O deputado João Almeida também foi muito importante, você podia entrevistar ele (sic). Mas isso que você me falou...eu estou surpreso, eu sou mesmo o deputado que mais discursa? Eu não sabia, eu disputo sempre com o meu colega do Ceará, mas no Ceará eu ganho.
Vossa Excelência também se refere nos seus discursos ao financiamento público de campanhas como um item importante da reforma política...
Mauro Benevides: Financiamento público, só majoritário. É difícil... se um governador fizer um comício junto com um deputado, quem vai pagar? O deputado que tem menos dinheiro, ou o governador que recebe doações do Estado? Então, essa é uma questão complicada, porque não tem como, com essa lei. Então...os principais temas são o financiamento público de campanha, a fidelidade partidária e as federações partidárias... Por que no sistema uruguaio deu certo e no Brasil não vai dar? É isso que eu queria saber. Preciso entender...
Nos seus discursos o senhor cita também a lista fechada...
Mauro Benevides: Eu nem estou falando da lista fechada porque, você sabe, a Casa não quis, ela já foi rejeitada, então, por isso eu nem vou me pronunciar sobre ela. Foi decisão da Casa, não tem nem mais porque falar disso, ela foi rejeitada. Esse foi um tema polêmico, muita gente não quis porque ia acabar com uma caciquização dos partidos. Os nomes da lista, os primeiros, iam ser dos que já tem um mandato. Então, por isso...
Sobre a decisão do STJ de atrelar os mandatos aos partidos, qual a sua opinião?
Mauro Benevides: O TSE, num primeiro momento, interpretou que os mandatos são dos partidos. Mas ai para não prejudicar os deputados que saíram, ai deu como limite a data de 27 de março, você deve estar acompanhando né, deu essa data como limite para que os deputados que saíram antes não perdessem o mandato. Depois, pro cargos majoritários, deu como limite o dia 16 de outubro. O STJ supriu a carência do Congresso, a negligência. Alguns dizem que o que aconteceu foi uma usurpação do poder do legislativo, mas eu, pode colocar ai, que o deputado Mauro Benevides disse que foi negligência, desídia e omissão do Congresso. Eles resolveram, agora, usar o projeto do senador Marco Maciel, com fidelidade de três anos. O que mais você quer saber?
Qual é a sua opinião sobre o voto distrital?
Mauro Benevides: Não há como! Nem o distrital, nem o distrital misto. É constitucional. Precisa de 308 votos, é inviável. Você viu, para a CPMF, conseguiram 330, mas o esforço que deu...Não tem como, nem o distrital nem o distrital misto. O Brasil é feito de votos nos estados. Isso ai são os deputados que só conseguem voto em poucos lugares, porque fica mais fácil de dar alguma coisa lá no lugar, no município. Eu não preciso disso, eu fui votado em 181 dos 184 municípios do meu estado. E foram votos espontâneos, eu não fiz campanha. Os meus discursos na TV Câmara ajudaram. Agora a TV Câmara chega a todo lugar, com a parabólica, a TV Câmara atinge todo o território. Minha votação foi dispersa, fui votado em 181 dos 184 discursos.
Na sua opinião, o que é mais importante: poucos partidos para favorecer a governabilidade ou mais partidos para favorecer uma maior representação de segmentos da sociedade?
Mauro Benevides: O nosso sistema é o que? Como é o sistema político? O sistema de partidos do Brasil, como é? Como funciona? É multipartidário, você não quis responder... É diferente do pluripartidário. Vou citar um grande cientista político que diz, você conhece, Paulo Bonavides, não é Benevides não (risos). Ele diz que o Brasil tem um sistema multipartidário que são mais ou menos 30 partidos. O sistema pluripartidário tem 12 partidos, com esse número da pra ter todas as correntes ideológicas representadas. O Brasil com 12 partidos teria as correntes representadas, mas esse número de 30 vem da fragmentação, do fracionamento das siglas.
Mas para a construção de alianças, para votar certas matérias, como o senhor disse antes, seria mais fácil um menor número de partidos...
Para isso a aglutinação é mais importante, para a governabilidade.
À que Vossa Excelência atribui a demora na colocação em pauta dos projetos de reforma política? Mauro Benevides: Os interesses. Os interesses regionais. As divergências entre partidos, mas o interesse regional superou o global, o interesse pessoal foi maior do que o global, isso dificultou. Já está bom para você, quer que eu fale mais alguma coisa, está gravando tudo direitinho?
Está ótimo. Muito obrigada, deputado.
Espero que tenha ajudado.